segunda-feira, 23 de julho de 2007

O Churrasco - com colaborações de André Cabelão e Rose a Foda

    O churrasco é encarado pela maioria das pessoas como uma festa, um encontro de amigos, uma reunião social; tal qual uma ida a um barzinho ou a um velório. Entretanto, este evento que reúne pessoas em volta de cadávares em brasa é muito mais do que isso. Em todo o mundo, exceto em colônias de férias gay e no sul do Brasil, o churrasco é um ritual de demonstração da virilidade masculina, o de maior expressão em toda a história.
    Alguns diriam que isto é uma calúnia, que os homens, muitos anos atrás, esfregavam testosterona na cara uns dos outros em combates mortais em arenas e coliseus e que não existe maior demonstração de virilidade do que isso; outros diriam que a construção de uma torre em forma de pênis imenso e torto na Itália nunca será superada em termos de ostentação masculina. Mas é aí que se enganam. Nos coliseus, por exemplo, quando colocavam gladiadores armados apenas com espadas, machados e maças, para lutarem contra funcionários públicos vorazes, que brandiam suas garras e tentáculos venenosos, a demonstração de virilidade se limitava aos gladiadores. A platéia nada podia fazer a não ser assistir.
    É aí que entra o diferencial do churrasco. Nele, todos os homens têm chance de se exibirem. Ao longo de todo o evento, diversas batalhas são travadas, na disputa incessante para descobrirem quem é o mais macho.
    Tudo começa com a churrasqueira.Todos os homens largam aquilo que estão fazendo para se juntarem em volta do carvão, discutindo sobre qual a melhor maneira de acender o fogo. É uma briga acirrada. O primeiro que sugerir colocar álcool dentro de um pãozinho, no meio do carvão, é expulso à chutes no baço, como se fosse a Vera Verão caindo de pára-quedas num campo de concentração nazista. O vencedor normalmente é o cara que encharca tudo com álcool e depois joga um fósforo, fazendo uma labareda de dar inveja ao Tiamat. Quanto mais mosquitos, helicópteros, aviões, metros cúbicos de camada de ozônio e ovnis forem destruídos durante o processo, mais macho é o acendedor.
    Eis que chega a hora de abanar o fogo. Todos os machões se revezam na atividade de chacoalhar uma tampa de panela freneticamente na frente da churrasqueira, como se esta fosse se transformar no inimigo do Robocop a qualquer hora, e eles fossem os únicos capazes de salvarem o mundo civilizado. Um a um, todos tentam abanar a tampa mais rapidamente do que o anterior, dizendo "Ó, é assim que se faz, que nem homem!". É ai, então, que o cara do pãozinho sugere o uso de um ventilador. E é ai que o cara do pãozinho sangra mais do que um cidadão de bem tentando pousar num aeroporto em São Paulo.
    A preparação dos comes e bebes é um espetáculo a parte. É nesta hora que os machos podem exibir seus dotes culinários, esbanjando a sabedoria milenar dos preparadores de carnes macias e suculentas, bem como das bebidas que deixarão as moças da festa (que até agora só conhecem o cara do pãozinho, que foi o único a ir conversar com elas) também macias e mais suscetíveis ao abate. O problema é que os bebes são bebidos durante a preparação dos degustativos, o que acaba trazendo resultados catastróficos, como: sal grosso na linguiça, caipirinha de vinagrete, picanha ao molho de caspa e coração de galinha com doce de leite.
    Inicia-se então o ritual da degustação. Nacos enormes de carne são engolidos de uma vez só, sendo empurrados com litros e litros de cerveja. A comilança é voraz, enquanto se desenrolam as disputas para ver quem bebe mais e quem se suja mais de sangue. Após algumas caixas de cerveja consumidas, o churrasqueiro da vez, mais tonto que controlador de vôo, deixa a carne queimar, sendo linxado pelos demais espécimes e expulso para o quarto das crianças, onde dormirará e se curará do coma alcóolico, muitas vezes vomitando sobre os brinquedinhos lego e bichos de pelúcia.
    No dia seguinte, em meio à ressaca, os machos gladiadores se perguntarão como o idiota do cara do pãozinho conseguiu pegar a mulher mais linda do churrasco, um viado que nem sabe beber.